13/02/2015

Esportistas falidos

Negócios falhados, más opções de vida ou até pais esbanjadores. Estas são algumas das razões que levaram atletas a estarem na falência.

Se há pais que se queixam dos filhos, há também casos em que são os filhos a apontar o dedo aos pais que lhes calhou em sorte. É o caso de Jack Johnson, jogador da liga norte-americana de hóquei no gelo - NHL -, que defende as cores dos Columbus Blue Jackets. Tem 27 anos, a carreira não lhe tem corrido mal e em 2012 assinou um contrato de sete anos com a equipa do estado de Ohio, que lhe permitiria ganhar perto de 26 milhões de euros. Mas neste momento está de mãos a abanar. A culpa? Dos pais.

Pouco depois de assinar o seu vínculo aos Blue Jackets, Jack assinou um outro contrato, mas com a mãe, dando-lhe plenos poderes para fazer a gestão financeira. Até à data, estima-se que Johnson tenha recebido cerca de 18 milhões de euros durante a carreira na NHL, mas neste momento está devedor de seis... Tudo porque os pais, ao longo destes últimos anos, gastaram praticamente todo o dinheiro do filho e, pior, contraíram dívidas dando por garantia os futuros ganhos do jogador de hóquei no gelo.

Concentrado na carreira, e certo de que os pais estariam a fazer a melhor gestão do dinheiro, Jack só se apercebeu da situação quando foi processado por falta de pagamento de uma dívida, contraída em seu nome. Estupefacto, cortou de imediato a ligação com os pais e contratou uma equipa de advogados para o proteger da situação, tendo declarado a falência pessoal. "Só posso dizer que escolhi as pessoas erradas, que me levaram pelo caminho errado", declarou Johnson que, apesar de tudo, decidiu não processar criminalmente os pais.

Futebol de milhões

Este é um caso insólito numa longa lista de atletas, ou antigos atletas, que ganharam fortunas ao longo da carreira mas que acabaram por declarar a bancarrota. Um deles é David James, de 44 anos, que durante anos foi o titular da baliza da Inglaterra. Estima-se que terá ganho entre 25 a 30 milhões de euros durante a carreira, mas em 2014 entregou os papéis a pedir a insolvência.

 

O divórcio da mulher Tanya, em 2005, terá sido o início do descalabro, não só pelo dinheiro que gastou em advogados, mas também porque teve de dar-lhe boa parte da fortuna - cerca de 4 milhões de euros. Antigo jogador do Liverpool e Manchester City, ganhou também boas quantias em contratos publicitários, dinheiro que desapareceu em investimentos falhados e bens imobiliários. De forma a pagar as dívidas que acumulou, o guarda-redes dos Kerala Blasters, da Índia, decidiu vender algumas coleções de camisolas e luvas que usou ao longo da carreira.

Andreas Brehme é outro caso que viu um acumulado de uma vida no futebol a desaparecer em apostas e negócios ruinosos. Financeiramente falido, teve de vender a casa para pagar uma dívida superior a 200 mil euros, muito menos, ainda assim, do que devia Christian Vieri quando preencheu os formulários de falência. Antigo avançado italiano, que brilhou com camisolas de Juventus, Atlético de Madrid ou Inter de Milão, abriu uma empresa, em sociedade com a mãe, na qual terá investido toda a fortuna. A coisa correu tão bem que acumulou 14 milhões de euros em dívidas, um montante que foi até investigado pela polícia italiana.

Voltando a Inglaterra, o ex-futebolista Paul Gascoigne é outro dos nomes que se depara com problemas financeiros, além de todos os outros que já tem, alcoolismo incluído. Já em 2009 foi declarado insolvente depois de ter falhado o pagamento de impostos por dois anos consecutivos, chegando a dever aos cofres do Estado mais de 250 mil euros, ele que chegou a ganhar cerca de 1,5 milhões de euros por ano nos "longínquos" anos 90.

Apostas, Divórcios e Miséria

Do outro lado do Atlântico, como já vimos no caso de Jack Johnson, a situação não é muito diferente, mas aumenta em termos de quantidade, seja de casos de atletas que declararam falência, mas também nos montantes envolvidos.

O caso mais flagrante é o de Mike Tyson, o pugilista que foi campeão mundial de pesos pesados nos anos 1980 e 1990. Ao longo da carreira, na qual disputou 58 combates, tendo perdido apenas seis, acumulou uma fortuna de mais de 250 milhões de euros, um valor que esbanjou na totalidade. A falência do lutador, agora com 48 anos, foi um choque para muita gente, isto apesar de Mike nunca ter sido um exemplo de bom comportamento, ou não tivesse ele tido a sua quota-parte de problemas com a lei, tendo até passado vários anos na prisão. Prostitutas, álcool, drogas, jogo e carros foram alguns dos destinos dos muitos milhões de Tyson que, em 2005, se declarou falido e sem capacidade de pagar os mais de 20 milhões de euros que devia ao fisco!

Quem não está melhor é Evander Holyfield, também pugilista e, em tempos, o maior inimigo de Tyson, que lhe arrancou parte de uma orelha à dentada durante um combate. Antigo campeão mundial no ringue, ganhou mais de 120 milhões de euros ao longo da carreira, mas depois de três divórcios, 11 filhos e muitos problemas de jogo, nada lhe resta. Entre as poucas coisas que "sobraram" estão os cintos de campeão do mundo, bens que ainda assim estão arrestados pela justiça, ainda que não tenham sido vendidos em leilão para dar oportunidade a Evander de os recuperar.

No basquetebol, houve duas grandes estrelas a passar da fortuna à miséria. Scottie Pipen, elemento da equipa maravilha dos Chicago Bulls de Michael Jordan é um deles. Desperdiçou uma fortuna a rondar os 100 milhões de euros em decisões tão ridículas como comprar um avião a jato avariado por 4 milhões e depois gastar outro milhão a arranjá-lo. Em 2005 estava legalmente falido e devia milhares de euros em despesas médicas, contas de telefone ou prestações da renda da casa ou do leasing dos vários automóveis que tinha na garagem.

Mais grave - de longe - é a situação de Allen Iverson, estrela da NBA nos anos 1990 e que, só em salários, terá ganho perto de 130 milhões de euros, fora os contratos publicitários, que terão colocado na conta bancária entre 30 a 40 milhões. O caso assumiu contornos extremos quando, no verão passado, o antigo basquetebolista foi visto a mendigar à porta de um centro comercial em Atlanta. "Não tenho dinheiro para comprar um hambúrguer", terá dito na altura. Os milhões terão sido gastos na vida supérflua que Allen sempre fez questão de ter. Carros velozes e caros, joias, aviões, mulheres, viagens, jogo, tudo em grande. Sem casa própria, a única coisa que lhe vale é um fundo criado pela Reebok - principal patrocinador de Iverson quando jogava na NBA - no valor de cerca de 25 milhões de euros. O único senão é que Allen só poderá usufruir desse dinheiro quando fizer 55 anos. Faltam 14...

 

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